O Senhor da Espada Rubra ou: Apenas uma Lenda
Não havia canto que seu nome não havia sido ouvido...
Não havia chão que ele não havia percorrido...
Para seus inimigos, o perigo;
Para àqueles que sobreviviam, lembrança do desespero...
Para seus amigos, mensageiro do destino...
Sentado, na beira da estrada,
Ele lembrava a vida que tomara,
De suas batalhas, das mulheres que já amara...
De como era poderoso brandindo sua espada,
Do orgulho que vinha quando a cabeça do inimigo ele decepava...
E da sensação de ódio a que seu coração adaptara...
Era um guerreiro poderoso...
Achava que era independente,
Suas amizades não duravam...
Seus amores, só prazer lhe davam...
E sempre no fim nada lhe restava,
Apenas sua armadura e sua espada... E o sangue de quem ele já matara...
Sozinho, ergueu-se do chão qual estava,
Continuou sozinho pelo caminho que sobrava.
Pelas cidades que passava, as pessoas o proclamava.
Outras se rebelavam.
E como o guerreiro que era
Pensou em brandir sua espada contra as pessoas que o odiava...
Como guerreiro, pensou ele... Como guerreiro...
Então, o tempo parou...
Era criança ainda,
Amava sua mãe,
Amava, até então, sua vida...
Tinha amigos e tinha os amigos dos amigos...
Era normal... Era uma pessoa normal...
Voltou então a si,
Olhava em volta...
Algumas pessoas mortas,
Não via vestígios de violência, não via rasgos pelos corpos...
Apenas o sangue que brotava de sua espada...
Sentia-se culpado...
Pra que tanto ele, então, havia lutado?!
E pela primeira vez, em muito tempo,
Ele, como humano, havia pensado...
Mas já era tarde...
Correu o mais longe que pode daquela cidade...
Sumiu por tempos
E por tempos, ninguém mais o viu...
Seu nome por todas as bandas fora esquecido,
As histórias seu nome apagara, re-inventara...
E mais do que nunca, sozinho ele se encontrava...
Um dia, um jovem guerreiro o buscava
Perdido como o cavaleiro estava
Nada lhe restava...
De seus sonhos, apenas o do perdão ainda o amparava...
E dessa visita inesperada, algo estranho radiava...
- Antigo Cavaleiro da Espada Rubra,
Não me conheces?! Deixe-me apresentar:
Meu nome é Vingança e vim para te matar...
- Jovem, tu és muito novo;
Não sei como me encontrastes nesse mundo,
Se até na história sou defunto...
O que tu queres não poderei dar.
Já veio o Ódio, que quase acabara comigo...
Já veio o Desprezo, que me isolara do mundo...
Já veio o Terror, que me fizera esquecer tudo...
Espero somente pelo Perdão e pela Morte...
- No entanto, eu sou movido pelo Ódio,
Pelo Terror, pelo Desprezo;
E busco sua Morte...
- Vingança?
É assim que te nomeias?! És este nome que gostaria em tua lápide?!
Não me obrigues a matar mais Desejos e Sentimentos...
Agora sou velho, mas sou o mesmo guerreiro de tempos atrás,
Não é o Desejo de Vingança que me matarás...
Não é o Sentimento do Ódio que um dia me vencerás...
Não é o Medo e o Terror que me abalarás...
Nem o Desprezo de um jovem...
Tens ainda muito que viver, desista...
Busque mulheres, busque batalhas que possa ganhar.
- Sim, Vingança é meu nome...
A mesma que você cometeu várias vezes...
A mesma que te torturou pela tua vida...
A mesma cometida por todos os homens...
A mesma que estarás escrito em sua lápide, não na minha..
- Vingues então!...
Se isso saciará tua fome de sangue...
Se isso acabará com teu anseio da vida, Vingues!
Mas, talvez minha morte seja meu maior perdão...
Maior até mesmo do que se continuasse vivendo...
Essa seria a maior ato de bondade que pudesse fazer a mim...
- Dizem que o Guerreiro da Espada Rubra era o mais temido de todos,
O mundo o conhecia, e não havia lugar em qual os inimigos não o temia...
Porque desiste tão fácil de tudo então?!
- Poderia te matar a qualquer momento, jovem
Mas o que isso me traria além de mais mentiras,
Nem o prazer mais eu teria...
Mate-me agora, Vingança...
Tire a injúria de um velho,
de um assassino de crianças.
- Não sei mais ao certo...
Meu pai foi morto por sua espada...
Minha mãe te serviu como escrava...
E agora que posso te matar...
Mas será que vale a pena sujar minha espada
Com alma tão pútrida, desumanizada???
- Jovem, transforma-se no meu novo eu...
Saias ao mundo dizendo de quem foi o sangue que em tua espada correu...
Diga ao mundo que matastes a mim...
Terás fama, terás mulheres, muitos correrão atrás de tua cabeça...
Mas só tu terás a honra de dizer que matastes a mim...
Seu nome serás conhecido, assim como o meu fora..
- Mas se tu mesmo dizes que isso é mentira...
Trará apenas incredulidades... E nunca estarei satisfeito.
Digas-me, por que, continuar com isso?!
- Jovem, tudo isso é uma mentira...
Mas, sinta sua ira...
É bom... A Glória é uma mentira...
Eu quis isso... Tive uma escolha...
Pensei que não viveria ou um dia a contaria...
Viva assim, será o meu novo eu...
- Essas propostas me tentam...
Poder, Honra e Glória...
Um jovem como eu, não tenho nada a perder.
Mas ainda sim, não me sinto convencido...
Se quiseres morrer tanto assim,
Dê-me mais motivos então...
- Matei teu pai, tua mãe foi minha escrava do prazer...
Fiz isso a muitos como tu... A maioria está atrás de vingança...
Três vieram antes... Mas só agora eu vi o homem para ser meu sucessor...
A mesma garra que eu já tivera antes, quando buscara vingança jovem...
Mate-me e o mundo será seu...
- Não ouse repetir novamente o que disseste...
Mas se pensas que assim eu te matarei...
Se queres tanto morrer devia ter usado outros argumentos...
Pensava que em ti ainda havia amor
Mas vejo só terror de tua antiga dor
- Pelo visto tu me enganaste...
Achei que tiveste coragem suficiente...
Mas vejo que tu és fraco como os outros...
Infelizmente, terei de cavar outra lápide..
(...)
E naquela mesma cabana
Foram enterrados vários outros sentimentos
E o mundo nunca mais ouvirá falar
De um Senhor da Espada Rubra
E sua morte... Ninguém a comentara...