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sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Ilha

Era domingo quando aquilo aconteceu.

Em uma tempestade, um navio cruzeiro naufragara... E no dia seguinte, naquela ilha, só ela se salvou. Uma garota feliz, desnorteada, começava uma vida solo naquele lugar; era linda como todas as outras que estavam no mesmo navio, um pouco mais esperta que as demais, isso a diferia.
A ilha era de outra exuberância. Ela nunca vira um lugar assim em sua vida. Após a tormenta da noite passada, um céu de azul profundo se revelava pra menina. Em nenhum lugar, pensou ela pra si mesma, as águas eram tão cristalinas como ali. O silêncio era estranhamente nostálgico para a náufraga.

Uma brisa a tocou no rosto. Suave. Da onde ela vinha, não existia algo tão encantador quanto aquilo. Reservou-se ao direito de sentir o vento agitar seus longos cabelos. No primeiro momento aquilo foi importante, acalmou-a. Quando seus olhos se abriram novamente, ela não reparava somente no céu ou na água, ou na brisa; viu a harmonia de aves que sobre ela voavam, eram exóticas... Eram lindas... Eram diferentes do que ela achava que viria livre um dia. Então as aves continuaram sua migração.

Calor. O Sol nascia e seus raios cortavam-na do pescoço pra cima. Lá no horizonte, atrás do mar que ela podia enxergar. Uma criança tímida, atrás de uma mãe, em busca de segurança. Lentamente ia perdendo o medo, primeiro brilhava um amarelo esbranquiçado, conforme tomava coragem ia se tornando mais corado. Depois um amarelo mais forte. Laranja. De repente, quando ela se deu por si, ele era o rei que sempre brilhava sobre a cabeça dos humanos, já em branco coragem... Agora aquecia o corpo inteiro dela.

Após a possessão dos céus e a tomada da ilha pelo sol, o som de uma linda flauta foi revelado. A mulher começou a segui-lo...

A garota seguia o som. O balançar das árvores o acompanhava e ela se sentia calma.

Perdera o pai. Perdera a mãe. Só lhe sobrava a Ilha... e o som da Flauta.

A medida que andava, as árvores, os arbustos, e até algumas flores que ela nunca vira, iam se aproximando. Apertavam o caminho para sua passagem. Ela olhou pro céu, deviam ser 8 da manhã ali... Não sabia que horas eram no seu lar – na onde fora seu lar.

Entre as brechas das árvores, borboletas das mais belas combinações de cores voavam e todas pareciam admirar a estranha. Uma se aproximou, pousou sobre o ombro dela e ficou ali... Outras iam aparecendo, surpreendendo a menina que , quiçá, um dia teve um sonho como aqueles. Tudo ali era perfeito. O paraíso é aqui.

Pássaros também surgiam aos montes, nas copas, ninhos, ovos. A Mãe levando a comida pros filhotes, outros gritavam de fome, uns só protegiam suas crias - a moça estava ali.

Lá no alto das árvores, ela via os pingos do sol entre as folhas superiores. Pingos que caíam nela e que iluminavam a floresta.

Ela notou outros animais de terra e de árvore: esquilos, guaxinins, cobras, lebres, micos, outros tantos; todos a olhavam admirados, pareciam querer um pedaço dela pra eles. Mas quase todos ficaram distantes.

Ela andou mais um pouco, uma raposa a seguia. Ela parou, a raposa continuou. Acanhada, se aproximava mais e mais. Olhava pra menina e vice-versa. Ao lado dela, a raposa sentou, lambeu os beiços e a menina a acariciou. A raposa lambeu a garota. Um ato de gratidão. A menina sorriu, a raposa também. O Flautista continuava.

Ela adormeceu enquanto voava...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

De início, um pequeno conto em versos...

O Senhor da Espada Rubra ou: Apenas uma Lenda

Não havia canto que seu nome não havia sido ouvido...
Não havia chão que ele não havia percorrido...
Para seus inimigos, o perigo;
Para àqueles que sobreviviam, lembrança do desespero...
Para seus amigos, mensageiro do destino...

Sentado, na beira da estrada,
Ele lembrava a vida que tomara,
De suas batalhas, das mulheres que já amara...
De como era poderoso brandindo sua espada,
Do orgulho que vinha quando a cabeça do inimigo ele decepava...
E da sensação de ódio a que seu coração adaptara...

Era um guerreiro poderoso...
Achava que era independente,
Suas amizades não duravam...
Seus amores, só prazer lhe davam...
E sempre no fim nada lhe restava,
Apenas sua armadura e sua espada... E o sangue de quem ele já matara...

Sozinho, ergueu-se do chão qual estava,
Continuou sozinho pelo caminho que sobrava.
Pelas cidades que passava, as pessoas o proclamava.
Outras se rebelavam.
E como o guerreiro que era
Pensou em brandir sua espada contra as pessoas que o odiava...

Como guerreiro, pensou ele... Como guerreiro...
Então, o tempo parou...

Era criança ainda,
Amava sua mãe,
Amava, até então, sua vida...
Tinha amigos e tinha os amigos dos amigos...
Era normal... Era uma pessoa normal...

Voltou então a si,
Olhava em volta...
Algumas pessoas mortas,
Não via vestígios de violência, não via rasgos pelos corpos...
Apenas o sangue que brotava de sua espada...

Sentia-se culpado...
Pra que tanto ele, então, havia lutado?!
E pela primeira vez, em muito tempo,
Ele, como humano, havia pensado...
Mas já era tarde...

Correu o mais longe que pode daquela cidade...
Sumiu por tempos
E por tempos, ninguém mais o viu...
Seu nome por todas as bandas fora esquecido,
As histórias seu nome apagara, re-inventara...
E mais do que nunca, sozinho ele se encontrava...

Um dia, um jovem guerreiro o buscava
Perdido como o cavaleiro estava
Nada lhe restava...
De seus sonhos, apenas o do perdão ainda o amparava...
E dessa visita inesperada, algo estranho radiava...

- Antigo Cavaleiro da Espada Rubra,
Não me conheces?! Deixe-me apresentar:
Meu nome é Vingança e vim para te matar...

- Jovem, tu és muito novo;
Não sei como me encontrastes nesse mundo,
Se até na história sou defunto...
O que tu queres não poderei dar.
Já veio o Ódio, que quase acabara comigo...
Já veio o Desprezo, que me isolara do mundo...
Já veio o Terror, que me fizera esquecer tudo...
Espero somente pelo Perdão e pela Morte...

- No entanto, eu sou movido pelo Ódio,
Pelo Terror, pelo Desprezo;
E busco sua Morte...

- Vingança?
É assim que te nomeias?! És este nome que gostaria em tua lápide?!
Não me obrigues a matar mais Desejos e Sentimentos...
Agora sou velho, mas sou o mesmo guerreiro de tempos atrás,
Não é o Desejo de Vingança que me matarás...
Não é o Sentimento do Ódio que um dia me vencerás...
Não é o Medo e o Terror que me abalarás...
Nem o Desprezo de um jovem...
Tens ainda muito que viver, desista...
Busque mulheres, busque batalhas que possa ganhar.

- Sim, Vingança é meu nome...
A mesma que você cometeu várias vezes...
A mesma que te torturou pela tua vida...
A mesma cometida por todos os homens...
A mesma que estarás escrito em sua lápide, não na minha..

- Vingues então!...
Se isso saciará tua fome de sangue...
Se isso acabará com teu anseio da vida, Vingues!
Mas, talvez minha morte seja meu maior perdão...
Maior até mesmo do que se continuasse vivendo...
Essa seria a maior ato de bondade que pudesse fazer a mim...

- Dizem que o Guerreiro da Espada Rubra era o mais temido de todos,
O mundo o conhecia, e não havia lugar em qual os inimigos não o temia...
Porque desiste tão fácil de tudo então?!

- Poderia te matar a qualquer momento, jovem
Mas o que isso me traria além de mais mentiras,
Nem o prazer mais eu teria...
Mate-me agora, Vingança...
Tire a injúria de um velho,
de um assassino de crianças.

- Não sei mais ao certo...
Meu pai foi morto por sua espada...
Minha mãe te serviu como escrava...
E agora que posso te matar...
Mas será que vale a pena sujar minha espada
Com alma tão pútrida, desumanizada???

- Jovem, transforma-se no meu novo eu...
Saias ao mundo dizendo de quem foi o sangue que em tua espada correu...
Diga ao mundo que matastes a mim...
Terás fama, terás mulheres, muitos correrão atrás de tua cabeça...
Mas só tu terás a honra de dizer que matastes a mim...
Seu nome serás conhecido, assim como o meu fora..

- Mas se tu mesmo dizes que isso é mentira...
Trará apenas incredulidades... E nunca estarei satisfeito.
Digas-me, por que, continuar com isso?!

- Jovem, tudo isso é uma mentira...
Mas, sinta sua ira...
É bom... A Glória é uma mentira...
Eu quis isso... Tive uma escolha...
Pensei que não viveria ou um dia a contaria...
Viva assim, será o meu novo eu...

- Essas propostas me tentam...
Poder, Honra e Glória...
Um jovem como eu, não tenho nada a perder.
Mas ainda sim, não me sinto convencido...
Se quiseres morrer tanto assim,
Dê-me mais motivos então...

- Matei teu pai, tua mãe foi minha escrava do prazer...
Fiz isso a muitos como tu... A maioria está atrás de vingança...
Três vieram antes... Mas só agora eu vi o homem para ser meu sucessor...
A mesma garra que eu já tivera antes, quando buscara vingança jovem...
Mate-me e o mundo será seu...

- Não ouse repetir novamente o que disseste...
Mas se pensas que assim eu te matarei...
Se queres tanto morrer devia ter usado outros argumentos...
Pensava que em ti ainda havia amor
Mas vejo só terror de tua antiga dor

- Pelo visto tu me enganaste...
Achei que tiveste coragem suficiente...
Mas vejo que tu és fraco como os outros...
Infelizmente, terei de cavar outra lápide..

(...)

E naquela mesma cabana
Foram enterrados vários outros sentimentos
E o mundo nunca mais ouvirá falar
De um Senhor da Espada Rubra

E sua morte... Ninguém a comentara...

Motivo do blog

Como estão dizendo por aí que o orkut vai acabar, to tentando me aproximar mais dessas outras fontes de relacionamento da internet.

Sempre gostei de colocar textos meus no perfil do orkut e gosto de receber críticas das pessoas, sejam boas ou ruins.

Tenho vários textos, desde poemas aos mais diversos contos, que venho fazendo a uns 6 ou 7 anos. Inclusive, um "romance" (não sei bem se posso falar romance, mas como sou estudante de engenharia e não de letras, me reservo o direito de errar isso uahauhauh) que escrevo esporadicamente a dois anos , dois anos e meio já, que considero um dos meus melhores textos, e mostra exatamente como foi evoluindo minha escrita e meu jeito de pensar nesse tempo.

Como também tenho ideias um pouco fora do comum, postarei por aqui opiniões sobre os mais diversos assuntos, uns textos (pseudo)filosóficos meus e outras coisa... sintam-se à vontade pra comentar.

Até mais o/