Assuntos

sábado, 7 de novembro de 2015

Perdido Sem Hora

Chovia. Ela chorava, não pude fazer nada.
- De novo essa história? – Naquele dia, mais cedo, ela perguntava – quer destruir tudo que criamos, que desejamos e que construímos? Vá em frente...
Com muito pesar terminei aquilo que já havíamos terminado: “PA! PA! PA!”

Eu tinha enxergado um novo horizonte, projetado outras colunas, outras formas.
Queria construir aquele outro mundo.
- Feliz agora? – Cínica como sempre era quando chegávamos ao fim de uma discussão que eu vencia. – Não terminaremos isso antes da próxima terça...

Deveríamos terminar agora!

Não era isso nem aquilo que eu queria. Ela
não entendia. Luzes brancas são luzes brancas, mas ela não...

- Anda, pare de ser teimoso, basta uma resposta, uma única resposta...
Não me interessava respondê-la. Já era criada, quase adestrada. Viver com ela sempre foi uma desgraça... Uma linda, apaixonante, miserável, carinhosa, horrorosa, desgraça!

- Seria melhor eu decidir? Sempre sou eu que decido... Então, vamos?
Não peguei em sua mão, ela pegou na minha... A larguei e deixei ir...

- Veja! Abras olhos, me agradeça! – Naquele
dia, mais tarde... – Novamente, sem problemas. – ... Ou não... – O problema é você...

Ela tinha feito aquilo de novo. E de novo. E de novo...
- Você não é nada sem mim. Aliás o nada é mais que você... Destrua e eu criarei... Crie e eu melhorarei... Melhore e destruirei, como sempre. Ainda não quer terminar com isso?
Fui feito de bobo – de novo.

- Não disse – mais tarde, naquela hora. – subjuga-me sempre... Amo tanto isso... Odeio tanto você. Vou-me embora.
Vitória, Vitória... Outra vitória, mas do que adiantaria... Ninguém perdia, ou ganhava, ou partia. Mas ela... ela voltaria

- O controle é meu – Mais hora, menos ora. Naquele final de outono - ... vamos correndo, correndo...

Rastejando? Corri...
- Você voltou – era inverno, era inferno - ... ali, ali e ali. Veja, você está errado, mas gosto assim. Como foi sua primavera?

 Respira fundo. Vai. Respira. Respira. Respira. Vai!! Vaiiii!!!
- Te amo. Por que, tanto, assim? – Naquele verão, antes da hora – ... te odiar, um sonho, um pensar. Um caminhar eterno... Te amar.

Ela estava errada. Totalmente errada. Tão errada que estava certa e eu queria que parasse. Pare!

- Não é te amar, é apaixonar e se horrorizar. É ceder, é você, me ame, me odeie, quero realismo. Quero surrealismo. – Naquela tarde, no outono... – Quem sabe, sexualismo? Ismo. Ismo. Ismo... – um gemido, dois ruídos. Um teto flutuante.
De novo, não chorava, sorria. Morre! Porquê não morria...

-  Viva! Viva... Quero você, quero ser sua vida – Bem antes, depois da tarde, num finalzinho de primavera – Quero te amar, morder sua língua. Gozar de seus encantos...
Era uma vez e é ainda... Ela me trata como besta e ...

- Você é insuficiente. Que infelicidade... – em alguma noite, depois da hora, antes do verão – Insuficiência também é dádiva. E eu sou sua Eva, sua Maçã, seu Pecado... Sou um recado que você deixou... Muito mal dado!
Lá se foram alguns outros tempos, chorava e chorava...

- Sou a única coisa que realmente te pertence... e seu único pertence que realmente vale de alguma coisa – no inverno, longe do inferno, antes da tarde – Mente, não mente, sua mente, você mente... Não, você não é real...

Depois das 7, hora ou outra ela se aborrece. Antes da 7, outra hora, em que ela enriquece, me empobrece. Uma última prece (...)

- Te amo. De volta para te amar. Veja bem, já são anos fora de horas que nada te apetece – antes do verão, sem chuva nem sol nem nuvem nem terra nem água, fora de hora – me consuma, me destrua, me construa. Ser só sua, mas não só a única! Ser só a única, mas não ser só sua!

Num tempo, sem tempo. Numa estação sem vento, sem documento, estacionado, sem hora, sem outrora. Só demandas, só carícias. Só a falta e o amor... o amor que era da minha vida...
E ela sorria...