Assuntos

domingo, 28 de novembro de 2010

Sinestesia

Sons laranjas iniciaram aquela madrugada. Na visão, a melodia de uma flauta de pã e os encantos de um calor palatável.
Quando misturaram com o laranja tons roxos e vermelhos, a lua sorriu e banhou os homens com todo encanto de sua música branca, deixando-os com água na boca para experimentar a magia do frio ao luar.
Assim, olharam novamente e sons de percussões e cordas juntavam com o da flauta, formando um arco-irís de diversos timbres diferentes . Os animais também sorriram.
Um escrivão resolveu anotar toda aquela magia. Então enxugou suas mãos e começou a escrever...
Enquanto o arco-iris pairava sobre as cabeças de homem, o cheiro da beleza estelar começava a tocar os corações mais fracos e afrouxava os mais fortes. Era o odor da escuridão infindável do universo. Era, também, melancólico.
O gosto da brisa que parecia vir direto dos fundílios celestiais começava a ficar doce como mel, entorpecente como um chá. Os homens o degustaram como profissionais.
O escrivão tentou começar com “ Os olhos...”.
Cores perolizadas começaram a passar pelos ouvidos de todos e o escrivão parou sem mesmo terminar a frase. Fechou os olhos, não via mais nada. As cores continuavam a passar por seus ouvidos, agora eram mais agressivas e se misturavam, transformavam em outras, surgiam diversas tonalidades mágicas, mas não paravam.
Os outros, mas poucos, notavam que o arco-irís se tornava mais brando com o tempo. Assim também ia recuando os efeitos narcóticos da bebida do universo. Os homens não eram mais profissionais da degustação. Tudo voltava ao normal.
Os animais não sorriam mais; os diurnos durmiam, os noturnos caçavam.
Entretanto, o escrivão permanecia de olhos fechados e iniciou de novo a sua escrita...

3 comentários: