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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sonhos II

Pra quem esperava mais um deles, estou postando agora em plena uma aula chata de fratura e fadiga dos materiais. Esse é meio pipizinho, mas faz parte da coletânea... se divirtam (=


O Suicida que voou


 “Então é esse o fim. Já fiz tudo, ninguém se sentirá culpado. Tudo estava tão bem a pouco tempo atrás, mas  não consigo suportar isso nem o que virá” -  pensava o suicida antes de tomar todos os seus comprimidos que o levariam a uma morte no sono.
Ele durmiu, era tão simples, tudo no corpo dele ia parar e ele não ia sentir nada, estava anestesiado contra qualquer dor e sofrimento, e ele morreria. Mas não foi assim...

Durante a noite, uma queimação em suas costas fez ele abrir os olhos. Árdia como o fogo do inferno, cortava como a lâmina mais afiada. Do centro de sua coluna, ao longo de toda ela, até a lombar, algo, melhor dizendo, duas coisas saíam. A dor lascinante, ele não sabia o que era, só sabia que doía e doía muito. Incapaz de mexer devido a dopagem, gritar, chorar, ele sofria calado enquanto o lado direito e o esquerdo de sua coluna eram rasgados e algo brotava de seus ossos...

Depois de um longo tempo, ele pode ver uma armação branca com  penas sobre sua cabeça, a coisa havia crescido tanto... Ele começou a sentir alguma corrente de ar passar por aquilo e notou que os dois lado estavam separados. A dor final o fez desmaiar.

No dia seguinte, ele não havia morrido. Assim que passou todo efeito, ele viu que era um par de asas que havia surgido em suas costas, eram asas angelicais. Sentia fome e vontade de ir ao banheiro. Mas ainda estava deprimido. Pulou da janela do seu quarto, no sexto andar de um prédio residencial, e num reflexo instântaneo começou a voar.

“O que está acontecendo comigo? Eu queria morrer e não voar... “
Voou para longe da cidade, estava pálido, nem naquilo conseguiu obter sucesso... mas... mas agora ele voava. Ele pensou que aquilo seria bom, poderia consertar as coisas que fez... Mas pra isso ele precisaria ir pro litoral. Ele voava, isso não era problema,  e descobriu que era bem rápido. Se seguisse em linha reta em menos de uma hora chegaria até onde sua amada estava, podia carregá-la pra longe e convencer a voltar com ele.  Podia praticar todos os planos juntos, ele tinha o poder e conseguiria...

Ele voou, alguns passáros o evitavam, outros pediam pra ele desistir, que nada daquilo iria dar certo, era tolo se ele ainda acreditava no amor depois do que aconteceu com ele. Mas ele não quis ouvir nenhum desses pássaros. Um último disse para ele aproveitar de outra maneira a dádiva que foi dada a ele -  ele poderia conseguir o que quisesse, agora ele voava!

Ele não desistiu, sabia que sua amada estaria esperando em algum lugar, debaixo de um guarda-sol, ou andando pelas calçadas da praia e ele a levaria para longe, mostraria que eles iam dar certo, e seriam felizes de novo – e que na verdade, nunca foram infelizes....

Então voando pelo litoral daquela cidade em que ela estava, após pouco tempo a encontrou... num rasante desceu  e a sequestrou. Suas amigas e amigos deram um grito, tentaram pegar o suicida voador, mas ele foi mais rápido e desistiram quando viram que ele estava alto de mais e poderia deixá-la cair.

- QUEM É VOCÊ?  – ela não tinha olhado no rosto do homem voador ainda, se debateu até ver a altura em que eles se encontravam. Como era bom tê-la nos braços de novo, apesar de não ser espôntaneo...

- Você me tratava assim, como anjo,  eu te tratava assim... mas agora sou apenas um homem que voa atrás de redenção, do seu amor e de perdão.. Meu verdadeiro anjo é você, sem você o vazio toma conta de todos meus sentimentos, minha vontades, meus objetivos... só quero ser feliz com você...

Ela reconheceu a voz. Um silêncio estranho tomou conta deles enquanto ele procurava um local seguro e longe para que eles pudessem conversar... Tudo já estava longe naquele momento.

Uma caimbra. Eles estavam no meio do mar, ele viu que não conseguiria voar mais e levaria a morte sua amada também.

Suas asas não batiam mais. uma dor aguda tomou conta de seu peito. Sua respiração parou, seu coração parou. E ele nem teve tempo de ouvir a resposta dela...

Um comentário:

  1. Um bom conto. Uma leitura bastante agradável e envolvente. Parabéns.

    Marco A.

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