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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

E vivo, entre imortais...

[...]E vivo, entre os Imortais, fui mantido.
Parecia óbvio viver entre os que não morrem, mas a obviedade não existe no abstrato. Tente imaginar algo novo... Pense se isso é belo ou se é assombroso; se fala, se anda, se late; se é hostil ou amigável; se tem capacidade de amar ou a capacidade de odiar... enfim, “platonize” tal imagem e se veja tentando explicar pra alguém essa coisa nova, continua óbvio?! Se continuar óbvio ou se o abstrato não te atrair, explique pra um cego o que é uma cor.
Para os Imortais, essas coisas não eram óbvias. Sabiam diferenciar os diversos planos da mente - no abstrato se emocionavam, no concreto raciocinavam e em algum lugar entre ambos, viviam!
Mas eram imortais, um erro tão profundo que não sabiam como tapar. Perdiam-se em suas vidas eternas e tentavam seguir rumo ao infinito, um projeto grandioso demais pra suas reles vidas sem fim... Mas tinham um projeto...
Tão velhos e tão novos, não eram apenas indivíduos perenes, eram também um conjunto único vazio quando juntos – Não se achava erros na união, nem acertos... era algo tão perfeito que só poderia ser um não-algo, ou uma não-coisa qualquer... Mas eram imortais.
Então um deus, num dia, resolveu fazer a proposição ao líder dos Imortais: daria a eles a vida limitada, a imortalidade não seria um buraco e a fenda aberta da eternidade que viera antes desse tempo seria vedada.
Ser mortal, um sonho imortal... Mas a unicidade do conjunto, a perfeição que a mortalidade não nos permitirá, será enterrada junto à nossa fenda infindável... O medo do líder foi constatado quando o deus continuou: [...] porém vocês, Imortais, terão que saber escolher um lado: o concreto, o abstrato; o correto, o inexato; a sorte, o destino; o novo, o experiente; a verdade, a mentira; a vitória, a derrota... a não-perfeição, o imperfeito – e o deus terminou ai.
Serão tantas coisas a decidir, como a nossa união se manterá vazia após isso. O que nos torna tão especiais, quando juntos, acabará... seria um fim ou um novo começo pra nós, os Imortais?
O deus então fez mais uma ressalva: [...] Não poderá volta de sua escolha quando essa estiver feita, decida: uma mortalidade enxuta e sujeita a erros ou uma imortalidade vazia e perfeita?
Erros? Isso o assustava, tal palavra nunca tinha sido dita entre os Imortais e nem esse deus conseguiu defini-la para condutor dos indivíduos de vida eterna. Pediu um tempo pra esse deus, reuniu com os outros Imortais. Após pouco (ou muito) tempo eles decidiram, tinham a resposta... o deus os esperava a muito (ou pouco), e sem dizer nada, os Imortais olharam bem nos olhos do deus, o deus os encarou, achou estranho, mas não disse uma palavra e havia entendido que eles haviam entendido... Os Imortais, então, pularam na fenda...

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